quinta-feira, 28 de julho de 2011

Festa , sem simplicidade.

Terminei hoje a elaboração de uma resenha sobre um texto, "A festa como objeto e como conceito" de Rita Amaral, para a aula de Antropologia Cultural II. Eu achei esse texto fantástico, muito coisa que não tinha percebido e parado pra pensar que foi realmente surpreendente. Vou colocar aqui essa resenha, só pra terem uma ideia do que se trata e quem tiver interesse procurar a leitura :]


O texto, um capítulo da tese de doutorado de Rita Amaral, começa com um problema relacionado ao tema. Ela diz que apesar de ser algo muito corriqueiro, estudar sobre a festa, seu conceito, como objeto, é algo ainda complicado na questão da bibliografia, mas, Durkheim traz uma explicação em um dos seus trabalhos, e assemelha a festa aos rituais tanto religiosos como comemorativos.
A explicação que Durkheim utiliza para essa conversa de religioso e festa é muito interessante, e se, parar para pensar, nunca percebi tanta semelhança em cerimônias religiosas e festas. Em ambas ocorrem muitos comportamentos parecidos, como gritos, cantos, música, movimentos violentos, dança, tudo isso a partir da procura de um estímulo. Ele traz também a frase: “Mas é preciso observar que talvez não exista divertimento onde a vida séria não tenha qualquer eco”, essa frase me fez parar por alguns minutos e ficar repetindo-a, até perceber que isso acontece naturalmente e cotidianamente, ninguém vive sem um som, sem uma música, até o surdo possui de alguma maneira a música dentro dele, “ouvida” com os olhos.
Ainda segundo Durkheim, citado pela autora, as principais características de todo tipo de festa são: 1- A diminuição da distância entre diversos tipos de indivíduos, pois, muitas culturas e identidades se encontram para as celebrações; 2- Existe uma “efervescência coletiva”, os indivíduos quando em conjunto não respondem por suas ações, são tomados pelo poder de praticar aquilo que lhe é visível, vão no mesmo ritmo que os outros; 3- E nessa multidão existe uma transgressão das normas, tudo é permitido, tudo é vivenciado. Na festa é vivenciado todo o contrário da vida cotidiana e cansativa do indivíduo. Apesar disso, o ser humano precisa de “vida séria” para viver em sociedade.
O texto começa a tomar um ponto de ligação ao título, na apresentação do tópico “As definições de festa”, o primeiro teórico citado é Sigmund Freud, e concordo com as palavras dele quando diz que uma festa é um excesso permitido, pois, em todas as festas existe a preparação para chegar até ela, muitas pessoas se reúnem presencialmente ou virtualmente e combinam desde a roupa que vai, quanto de dinheiro que irá levar, o que vai beber, até o momento da volta. Dessa maneira eu percebo as palavras de Freud, é uma obrigação esse excesso que acontece em todos os tipos de festas.
Como nos outros textos lidos na disciplina, existe na festa uma simbolização também, é festejado algo objetal, mesmo que não tenha relevância. No primeiro texto foi visto que as representações simbólicas também ajudam na construção da identidade, e no texto sobre o consumo vimos a forma que é utilizada para chamar a atenção do consumidor, o simbolismo nos objetos e sua organização. O vídeo mostrado em sala de aula, sobre a Festa do Lambe Sujo em Laranjeiras também está de acordo com esse pensamento, pois, é a encenação da luta entre negros (os lambe-sujos) e índios (caboclinhos), estes mandados pelos brancos para destruírem os quilombos, ou seja, uma cultura simbólica.
A autora traz uma teoria de Duvignaud que diferencia Festa de Participação e Festa de Representação, na primeira inclui a participação da comunidade nas cerimônias públicas, e todos estão conscientes do mito que é festejado. Já na Festa de Representação, existem atores e os espetáculos feitos para um espectador, desse modo os participantes (atores) são em número limitado, enquanto o público é um número ilimitado. No Brasil muitas festas possuem os dois sentidos, pois são apresentadas e realizadas, em nível local ou televisivo.
DaMatta explica que o carnaval é uma festa de inversão, pois existe a quebra dos papéis rotineiros, o pobre se fantasia de rico, o homem de mulher. Há alguns dias terminei a leitura de um livro, “Cartas a um jovem terapeuta” de Contardo Calligaris e nesse livro tem um capítulo que fala sobre uma determinada festa que ele, o personagem psicoterapeuta foi a uma festa à fantasia, mas estava saindo do trabalho e foi com a roupa que estava, chegando lá, encontrou mais duas pessoas, dois amigos de profissão nos mesmos trajes, terno. Uma pessoa chega até eles e pergunta: “E vocês, estão fantasiados de que?”. E um amigo dele respondeu: “Mas estamos todos fantasiados, fantasiados de psicanalista lacaniano”, ou seja, isso é quem eles são, e como eles querem ser apresentados, como psicanalistas. 
Qual o sentido de ir a uma festa afinal? Socialização e divertimento. Quando um indivíduo vai a tal lugar, encontra tal pessoa(s) é que a festa começa então a ter essas características que Durkheim fala, mas, quando terminar, tudo volta a ser como antes, a “vida séria” volta a se instalar no cotidiano individual e coletivo, até a próxima festa.

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